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sábado, 3 de abril de 2010

Equilíbrio Distante: A família, o lado pessoal e o trabalho.

Equilíbrio Distante foi o nome dado ao álbum de Renato Russo lançado em 1995 pela gravadora EMI e que continha músicas em italiano. Dele, além de já ter ouvido suas músicas por diversas vezes, somente vou aproveitar o título para escrever sobre o trinômio: vida pessoal, família e trabalho. Nada, absolutamente nada contra o disco ou o cometa Renato Russo que passou, deixou um rastro belíssimo de poesia, e nos deixou órfãos de canções com um significado ou uma leitura especial.


Imaginem a seguinte situação em que haja o desequilíbrio entre as três situações citadas e que a mesma pessoa passe por elas. É sobre este prisma que vamos iniciar a nossa viagem.

João, um homem de família muito simples e já quase sem posses devido ao seu desemprego, buscava sua recolocação no mercado de trabalho do qual ficara afastado por muitos e muitos anos mesmo sendo um profissional de capacidades médias e alguns cursos em seu currículo. Várias tentativas sem sucesso o deixavam com tempo demais para a sua família que vivia da ajuda de alguns amigos e parentes, de umas faxinas que a mulher fazia e alguns “bicos” que surgiam para o João. As crianças estavam crescendo ao redor do pai que tinha muitas horas a seu dispor para conversar, brincar, ajudá-las nos estudos mas o seu lado pessoal cobrava dele uma satisfação maior que aquela preenchida ao lado da família. Havia o seu desejo maior de retornar ao trabalho para desempenhar as funções para as quais ele se preparou desde a sua adolescência. A cada noite ao se deitar João sentia-se amplamente feliz com a sua participação na vida dos filhos, pela sua opção de não criar qualquer vício e ter o pensamento firme num retorno. Era feliz mas não completamente feliz e precisava mudar. A cada novo dia ele sentia na pele a dor de não poder proporcionar à mulher e filhos o que qualquer chefe de família costumava fazer: uma vida confortável mesmo que sem luxos ou extravagâncias. Momentos de diversão, um passeio, roupas, material escolar e tempo para conviver. Ele só tinha o tempo para oferecer para aquela família que o amava tanto. A sua mulher, que tanto o apoiava, já começava a cobrar uma nova vida para eles pois aquela situação já era vivida por muitos anos.


Num dia de Outono um amigo o encontra e lhe oferece uma oportunidade de retornar ao mercado de trabalho. Confiante João se pôs em passos largos na direção apontada. Arrumou-se, preparou-se para a entrevista e foi até lá. Bingo! Era o seu retorno mesmo que ainda fosse coberto pela nuvem da insegurança de estar tanto tempo afastado da labuta. O seu amigo de outrora sabia de sua capacidade e competência e dispunha de algum tempo até que João estivesse novamente apto a exercer as suas atividades tal e qual no passado. João crescia em vontade de vencer e buscava o seu aprimoramento muito rapidamente, em pouco tempo ele já estava quase no ponto e a alegria pelo trabalho voltava a ser estampada em seu rosto. A família o recebia ainda mais feliz e a cada dia celebravam as suas conquistas. No trabalho era visível seu crescimento e a sua dedicação naqueles primeiros anos de empresa: colaborador, atencioso, voluntário para tudo e até para as horas-extras. Participante ativo das reuniões com um grande número de idéias para cada um dos problemas que surgiam. O tempo foi passando e, como em toda empresa, o clico econômico sofre oscilações e a pressão por enxugar custos vira a conversa do dia-a-dia. A rádio-peão fica 24 horas no ar espalhando notícias nos corredores da empresa. Surgem pequenas oportunidades e de crescimento e a empresa necessita de trabalhos extraordinários. Muito serviço se acumulando devido às vendas conquistada a muito custo com prazos de entrega absurdamente exíguos. Muitas horas-extras surgiram e tiraram João daquele seu ritmo de saída às 6 da tarde, pegar as crianças na escola e ir para casa. Sua vida tinha ficado mais agitada: alguns dias as crianças ficavam esperando na escola, em outros a mulher tinha que buscar de ônibus e assim a vida começava a mudar. Agora o trabalho tomava conta do seu dia e ele já não estava gostando de viver aquela situação e João dá um passo atrás e deixa de lado aquele seu ímpeto inicial de participar. Já não é a mesma pessoa que estava ali.

João era agora um homem realizado: tinha uma bela família, emprego e sabia cuidar de seu lado pessoal. Estudava para aprimorar os conhecimentos, fazia seus cursos de línguas e tinha como lazer andar de bicicleta com um grupo de amigos nos fins-de-semana. Faziam passeios fantásticos que João tinha o imenso prazer de mostrar as fotos para a sua família e amigos. João tinha uma belíssima bicicleta e todos os equipamentos exigidos para a prática do esporte. Agora o seu trabalho passava a competir com a sua família e o seu lado pessoal. O que fazer? De qual deles deveria abdicar? Qual deveria priorizar? Como conseguir o equilíbrio?

Muitos de nós já vivemos ou ainda está vivendo uma história semelhante à de João que busca uma resposta a cada uma das perguntas que surgem em sua mente e tenta partilhar seu tempo entre as partes que mais diretamente afetem a sua sobrevivência, o seu orgulho e as suas vontades. A escolha não é fácil, da mesma forma a resposta.

O trabalho é importante sim mas não deve ser a sua única forma de se ver a vida. A família é importante (a mais importante) mas também tem as suas necessidades que devem ser supridas e não vamos ser tolos em afirmar que tudo fica muito bem quando as condições mínimas não são alcançadas. O lado pessoal é por demais importante e deve ser sempre levado em consideração pois representa a busca natural do homem pela sua evolução junto ao meio em que vive.

Em todas estas situações João deverá fazer opção e abdicar das demais? Talvez não! A busca pelo equilíbrio (mesmo que distante) deve levar em consideração o tempo em que viveremos aquela nova experiência que nos tirou de nossa rotina. Esse não é um jogo de certo ou errado, é um jogo de equilíbrio onde seus malabares têm seu peso que variam conforme cada João. É como se todas as bolas fossem de vidro (em alguns textos já li que a bola do trabalho é de borracha e quando cai ela bate e volta...). Fazer o que gostamos em tempos adequados, de forma bem estruturada, em parceria com a nossa empresa e com os colegas de trabalho vai nos proporcionar um convívio também adequado no seio de nossa família e amigos e certamente conseguiremos atingir as nossas metas pessoais. Certamente não é tão simples como as palavras mas somente VOCÊ poderá atribuir o peso que cada uma destas bolas de vidro têm para a sua vida. Esta é uma decisão pessoal e intransferível pois a vida é SUA.

Apenas uma sugestão: converse com qualquer um dos lados afetados já no início da mudança. Não fique guardando somente para você as suas inquietudes e questionamentos. No trabalho converse com seu líder; em casa, reúna a sua família e coloque um prazo para aquela situação; e com você, saia para uma caminhada sozinho e passe o filme da sua vida, nele você encontrará a resposta aos seus questionamentos. A conversa interior é a que é mais facilmente ouvida por você.

Pense nisso e busque este equilíbrio por mais distante que ele possa estar de você.

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