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domingo, 19 de setembro de 2010

O “Jeitinho” (BOM) Brasileiro: mais um texto para refletir.


 Na postagem anterior falamos sobre um lado que não é tão bom de comentar sobre nós mesmos (mas que não podemos fechar os olhos para esta realidade): o “Jeitinho” Brasileiro quando deixamos de cumprir regras, leis e acordos ou usado malandramente (no mau sentido). Neste artigo vamos nos ater a outro prisma que é quando, este mesmo Jeitinho nos coloca em posição de destaque diante das mais diversas situações a que somos submetidos. Então vamos lá!

Alguns dos nossos muitos predicados são:


CRIATIVIDADE (não é uma característica de um povo específico): dada a nossa falta de recursos acabamos por desenvolver soluções de baixo custo, porém de eficácia ímpar. Normalmente nos países mais desenvolvidos estas soluções se dão pala implantação de processos automatizados e de custo elevado, o que não quer dizer que não seja um processo criativo absolutamente, porém conseguimos ir um pouco além quando se trata de criatividade. Atualmente os grandes líderes da ONU são escolhidos dentre países menos desenvolvidos pelo fato das contribuições nas soluções serem adequadas economicamente (baixo custo e eficácia alta). É de fato uma característica nossa sermos criativos e apresentarmos soluções rápidas aos problemas que surgem à nossa frente.

                                                   


Aqui cabe todo o mundo!
SOCIABILIDADE: conseguimos deixar passar claramente esta nossa virtude quando nos relacionamos com outros povos. É certo que em alguns casos passamos da conta, mas certamente temos uma boa vontade gratuita que não se vê em países da Europa. Um dos fatores que mais contribuem é dado a nossa diversidade cultural que advém da nossa colonização e miscigenação através dos tempos. Pense em um povo que se formou e ainda se relaciona com índios, portugueses, holandeses, americanos, africanos, italianos, japoneses, chineses e por aí vai. Temos as maiores colônias de outros povos em nossas terras e toda essa mistura, acrescida de um tempero tipicamente nacional, nos dá uma maleabilidade única quando temos que nos relacionar interna e externamente com grupos de pessoas de raças diferentes da nossa. 

Diversidade
DIVERSIDADE: é atualmente a palavra de ordem em muitos países desenvolvidos. Há uma necessidade de se entender, aceitar e se desenvolver culturalmente diante de tanta informação trazida à força pela Globalização e os investimentos nesta área são enormes e a longo prazo. Por muitas razões a mão de obra especializada passou a vir de outros países e em grande quantidade e boa qualidade, ocupando um espaço que anteriormente era ocupado apenas com o capital intelectual local. Os EUA estao passando por esta adaptação a este novo modelo de operação e um bom exemplo são os trabalhos desenvolvidos à distância em outros países. A Índia destaca-se pela produção de software (é um país que possui uma grande população não-Inglesa que fala Inglês) e destaca-se também pela utilização de sua mão de obra em Call Centers onde muitas empresas americanas terceirizaram seus setores de vendas por telefone para empresas da Índia. Diversidade é para nós brasileiros uma competência “de formação” e que devemos explorar muito além do que estamos fazendo. Teremos dois grandes eventos: a Copa do Mundo em 2014 e as Olímpíadas em 2016 nos quais poderemos aplicar estas nossa habilidade porém certamente os que estiverem melhor preparados sairão na frente. Ainda falando sobre Diversidade existem aspectos que passam pela inclusão social de classes ou indivíduos que anteriormente eram renegados a subempregos ou à informalidade: portadores de deficiência, idosos, homens, mulheres, etc e que nestes casos já existem ações (ainda pequenas) para a aceitação e convívio com os representantes destes grupos sem qualquer forma de retaliação.

Resiliência no trabalho
RESILIÊNCIA: somos naturalmente um povo resiliente (a Física define resiliência como a capacidade de um material de sofrer tensão ou deformidade e recuperar seu estado normal após suspensa a ação sobre ele). Este mesmo conceito se aplica às pessoas que têm a capacidade de manterem-se em pleno estado de desenvolvimento ou movimentação em direção a uma meta tão logo as dificuldades encontradas cessem. Quem de nós já não disse ou ouviu a seguinte frase: “Sou brasileiro e não desisto nunca”.

Resiliência: segundo o dicionário Aurélio é “a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de tal deformação elástica”.




Loja da Ricardo Eletro
 EMPREENDEDORISMO: somos o 13° país mais empreendedor do mundo (2008) o que revela a nossa capacidade de buscar algo a mais mesmo em ambientes considerados desfavoráveis devido à inflação, impostos elevadíssimos e até pela falta de apoio do governo nas questões de amparo técnico para a criação das empresas. O índice de mortalidade das empresas no seu primeiro ano de vida ainda é muito alto (caiu de 35% para 27% em SP) e menos de 50% chegam a completar 5 anos de vida. Segundo o SEBRAE somente em SP existem 2,6 milhões de empreendedores informais (não possuem CNPJ) e 1,3 milhões de empreendedores formais (possuem CNPJ) sendo que nos dois casos as áreas de atuação são o Comércio (55%) e a Prestação de Serviços (35%).

Neste quesito destacamos um grande empreendedor dos últimos tempos: Ricardo (Nunes) Eletro que iniciou sua trajetória em 1989 vendendo bichinhos de pelúcia e produtos eletrônicos em uma loja de 20 m2. Com uma propaganda agressiva foi ganhando espaço e se tornou em uma grandiosa rede de eletrodomésticos, eletrônicos, informática, móveis e utensílios no Brasil. Em Março uniu-se com a rede Insinuante resultando na holding Máquina de Vendas com mais de 750 lojas em 23 estados brasileiros.

Um termo muito comum e que é usado de forma pejorativa é a gambiarra (em alguns lugares usa-se guaribada também) cujo significado predominante é: extensão de luz (aquela seqüência de lâmpadas ligadas em paralelo, muitas vezes usadas em quermesses ou festas juninas). Aqui temos duas condições que conflitam de forma bastante curiosa:

(1) gambiarra como solução criativa para um problema (jeitinho bom) e que é louvável. Quem de nós já não teve que inventar um dispositivo “MacGyver” (série de TV onde o protagonista tinha sempre uma combinação de materiais para criar um artefato que solucionava seu problema) para resolver um pequeno probleminha de última hora. Uma barra de calça que descostura certamente pode ser colada por dentro com fita crepe ou isolante. Neste exemplo lembro que tempos depois passaram a comercializar um produto com esta mesma finalidade. Você não vai chegar atrasado na festa, certo?

(2) gambiarra como solução permanente do problema e meio de se fazer algo de forma errada conscientemente (jeitinho ruim). Isolar emenda de fios com veda-rosca ou fita de papel ao invés de colocar uma conexão ou fita isolante. Nestes casos os riscos são iminentes e através da repetição passamos a entender o errado como sendo o certo. Isso é muito perigoso!

Dê uma olhada nestas gambiarras aqui em baixo.
(Posicione o mouse sobre as figuras para parar a movimentação)


Sem dúvida somos um povo trabalhador e que tem características muito importantes que todo grande empresário precisa ter para gerir seu negócio apenas devemos ficar muito atentos aos nossos possíveis deslizes dada a nossa histórica capacidade de não levar a vida tão a sério (o Jeitinho ruim). Somos, pelo conjunto da obra, adaptáveis às mais diversas situações e sabemos discernir o que é o certo e o que é o errado, isto é fato!

O Canal Futura exibiu uma série de 13 programas idealizados por Antônio de Andrade, sócio da produtora independente Filmes do Serro e que tiveram como consultor o antropólogo Roberto DaMatta. Estes programas buscavam retratar pessoas comuns e o que elas faziam para sobrepor as dificuldades encontradas. A criatividade, a capacidade de empreender e o otimismo face às dificuldades eram o carro chefe dos personagens do programa. Assita o vídeo e note a felicidade destas pessoas. É impressionante!

                                                   

Precisamos aprender muito com eles a nos comprometer em fazer o que é CERTO. Então não perca tempo e use o seu Jeitinho (BOM) Brasileiro onde você estiver.

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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O “Jeitinho” (ruim) Brasileiro: um texto para refletir.


Zé Carioca - o malandro
Você certamente já falou ou ouviu falar do nosso internacionalmente conhecido “Jeitinho” Brasileiro. Certo? Você já refletiu sobre a influência que ele tem sobre as suas decisões ou sobre as ações que você toma no seu cotidiano? Você já se sentiu prejudicado ou beneficiado por uma situação em que o outro lado deu um “jeitinho” e a situação ficou bem diferente do que seria o normal? Então está na hora de você entender melhor porque somos assim e o que podemos (e devemos fazer) para que esta situação mude e passemos a ser vistos por nós mesmos e pelo resto do mundo como pessoas sérias, honestas e que seguem regras, ordens ou leis (neste artigo não vou abordar o jeitinho como forma de improviso bem sucedido e legal na solução de problemas).

O “Jeitinho” Brasileiro traduz-se pela ação tomada (conduta) diferentemente daquilo que a lei (ordem ou regra) versa sem que a diferença implique em punição para o infrator. É um processo típico onde alguém dribla a lei para atingir um objetivo uma vez que seguindo estas determinações não alcançaria seus objetivos. O problema se agrava pela repetição destes atos nos levando a desobediência a horários, regulamentos, desrespeito aos direitos de classes (idosos, crianças, consumidor, etc) bem como a uma aceitação do errado pelo certo assegurado pela certeza da impunidade e provocando uma alteração do controle social e da competição. Para entendermos melhor este assunto vamos imaginar a seguinte situação em que você passa num exame ou concurso e tem uma data para entregar alguns documentos exigidos para a matrícula e cuja exigência destes documentos já era de seu conhecimento no ato da inscrição (lá no início do processo). A esta altura você já entende que negligenciou a necessidade do documento e deixou de iniciar o processo para adquiri-lo, certo? Então chegada a hora da matrícula o documento é solicitado e você não possui. Da forma como as situações se resolvem atualmente você tem 100% de certeza que terá um novo prazo para entregar o documento, certo? A sua resposta deveria ser ERRADO. Se você respondeu CERTO, só há uma razão: VOCÊ já está contaminado pelo “Jeitinho” Brasileiro. Não se preocupe ainda há tempo para você se corrigir. Nesta história anterior, diante de uma necessidade já conhecida, o correto seria você providenciar o referido documento desde o instante em que fez a inscrição, mas a certeza da impunidade te leva a um relaxamento natural que é validado quando o funcionário te dá mais um tempo para você entregar o documento para ele (abrindo espaço para propinas, favores, presentes, etc). Isso tudo precisa acabar! Os nossos interesses não podem sobrepor às regras que a sociedade deve seguir e nós somos parte desta sociedade. Se não mudarmos o nosso comportamento, a cultura do favorecimento pessoal se torna uma instituição legalizada pela ação contrapondo aquilo que fora estabelecido.

A Constituição rasgada
Num estágio inicial, o “Jeitinho” Brasileiro não se traduz em ganho monetário, ele se faz valer apenas da quebra de regras estabelecidas em função de um julgamento pessoal sobre uma determinada situação que no exemplo anterior seria o funcionário aceitar a sua matrícula sem que você tenha entregado o documento (aquele que você não providenciou) por entender que não é justo alguém passar num concurso e não poder efetuar sua matrícula porque “não tem um documento”. Dada à sua pouca influência social, o “transgressor” (aquele que dá o jeitinho) passa a ser considerado em um novo patamar ou posição uma vez que solucionou um determinado problema mesmo que contrariando uma norma. Neste caso não há corrupção (ainda) mas a pessoa que cede, o faz por seu próprio julgamento e por entender que a regra é inadequada. Importante ressaltar que não há uma alteração ou aprimoramento das regras estabelecidas uma vez que as mudanças têm caráter pessoal, emocional ou até social e não são comunicadas ou identificadas por alguém de direito e dessa forma não permite correções. O “ser bonzinho” ou “agir com o coração” transforma o errado em certo e nos faz perder a noção de civilidade e ética. Daí para evoluirmos para a corrupção é só uma questão de tempo ou de oportunidade.

Você se lembra do comercial do cigarro Vila Rica que foi veiculado na década de 70 em que o jogador Gérson (campeão do Mundo na Copa de 70) dizia que gostava de levar vantagem em tudo? Desta época em diante surgiu a “Lei do Gérson” como ficou conhecida toda e qualquer atitude onde alguém levava alguma vantagem em uma negociação. Tempos mais tarde numa tentativa de se recuperar o mesmo jogador protagonizou outro comercial onde dizia que “o melhor do Brasil é o brasileiro”, mas desta vez sem muito sucesso. Essa “vantagem em tudo” até hoje representa, em grande parte, a forma de pensar de muitos de nós que entende que levar vantagem em tudo significa também burlar regras e leis.

(O vídeo a seguir não deve ser interpretado como um incentivo ao fumo, serve apenas como parte do contexto deste artigo)

                                                  

Historicamente o nosso país aprendeu a negociar baseando-se em laço de amizades como sendo premissa para então existir o negócio propriamente dito o que nos colocou e ainda coloca como diferenciados (negativamente) entre os demais países da Europa, da América do Norte, Ásia e até de alguns dos países da América do Sul. Alguns dos nossos grandes críticos deste assunto colocaram claramente suas idéias desde o final do século XIX e início do século XX: Machado de Assis foi grande crítico do comportamento e personalidade de nosso povo; Mário de Andrade, um dos líderes do movimento Modernista brasileiro, buscava uma identidade autenticamente brasileira quando criou o personagem Macunaíma - o herói sem nenhum caráter, cuja frase principal era: - Ai que preguiça! Não foi à toa que Mário de Andrade criou estes traços de personalidade (preguiçoso, matreiro e mutreteiro) além da mistura de branco, negro e índio para o seu personagem. Mário de Andrade não fazia nada sem que houvesse um profundo estudo sobre o assunto.
Machado de Assis
Mário de Andrade

É de longa data que somos conhecedores de muitas frases nossas que traduzem situações muito semelhantes sobre o nosso jeito de ser:

“Amigos, amigos; negócios à parte” - uma tentativa de demonstrar que aquela relação não teria influência do “jeitinho” brasileiro.

“Aos inimigos, as leis; aos amigos, tudo” – neste caso demonstrando claramente o favorecimento através do lado emocional e social.

“Jogar para debaixo do tapete” – como uma forma de esconder o erro e deixar a situação como está.

“Você sabe com quem está falando?” – uma pergunta que impõe um posicionamento de superioridade (pelo desconhecimento da pessoa ou de sua posição social) levado como uma forma de burlar uma regra previamente estabelecida sem apresentar inicialmente o transgressor.

“Aqui quem manda sou eu” – quando dita por alguém de menor poder ou influência, traduz-se pela demonstração clara de influência e decisão sobre o processo ou regra estabelecida em benefício ou favorecimento de outrem.

A nossa forte tendência à cordialidade, tolerância e conciliação propicia um ambiente em que a informalidade, o “bom senso” (julgamento próprio) e simpatia sobrepõem às regras. Olhando pelo lado dos negócios nota-se que no final da linha estes atos alteram enormemente os nossos custos de produção por requerer fiscalizações excessivas, inspeções muitas vezes desnecessárias e geração de novas regras tanto nas esferas públicas e privadas. Já não existem mais os contratos feitos no “fio do bigode” onde a palavra tinha valor. Olhe ao seu redor e veja quantas atividades poderiam ser removidas do seu cotidiano caso cada um de nós fizéssemos a nossa parte em concordância com a sociedade e não com o nosso julgamento apenas.

Periodicamente participo de reuniões com pessoas de outras nacionalidades e posso lhe assegurar que a nossa imagem não é nada agradável diante dos olhos destas pessoas e, invariavelmente, temos que “matar um leão” (me desculpem os defensores dos animais) por dia para provar que somos honestos, sabemos cumprir horários e respeitamos os regras e o direito dos outros. Isso não é nada bom! Se você tem algum amigo brasileiro que vive em outro país, aproveite esta oportunidade e pergunte a ele como somos vistos por estas pessoas Você certamente vai ficar chocado com o que vai ouvir se é que ainda não ouviu.

Brasil - a bola da vez

Por último quero esclarecer que apesar de toda esta situação existem muitas pessoas que se desvencilharam deste estigma de (má) formação cultural que envolve o nosso país (Graças a Deus!) e apenas ainda são em número muito reduzido. Cabe a cada um de nós iniciarmos, mesmo em passos pequenos, uma corrida para mudar o curso desta história, são atitudes simples que resultarão em modificações radicais na natureza do nosso comportamento diante das situações a que somos expostos. Nós temos a obrigação de fazermos um país melhor para nós e para os nossos filhos.


Você não precisa levar vantagem em tudo.

Diga NÃO ao “Jeitinho” (ruim) Brasileiro!