Zé Carioca - o malandro |
O “Jeitinho” Brasileiro traduz-se pela ação tomada (conduta) diferentemente daquilo que a lei (ordem ou regra) versa sem que a diferença implique em punição para o infrator. É um processo típico onde alguém dribla a lei para atingir um objetivo uma vez que seguindo estas determinações não alcançaria seus objetivos. O problema se agrava pela repetição destes atos nos levando a desobediência a horários, regulamentos, desrespeito aos direitos de classes (idosos, crianças, consumidor, etc) bem como a uma aceitação do errado pelo certo assegurado pela certeza da impunidade e provocando uma alteração do controle social e da competição. Para entendermos melhor este assunto vamos imaginar a seguinte situação em que você passa num exame ou concurso e tem uma data para entregar alguns documentos exigidos para a matrícula e cuja exigência destes documentos já era de seu conhecimento no ato da inscrição (lá no início do processo). A esta altura você já entende que negligenciou a necessidade do documento e deixou de iniciar o processo para adquiri-lo, certo? Então chegada a hora da matrícula o documento é solicitado e você não possui. Da forma como as situações se resolvem atualmente você tem 100% de certeza que terá um novo prazo para entregar o documento, certo? A sua resposta deveria ser ERRADO. Se você respondeu CERTO, só há uma razão: VOCÊ já está contaminado pelo “Jeitinho” Brasileiro. Não se preocupe ainda há tempo para você se corrigir. Nesta história anterior, diante de uma necessidade já conhecida, o correto seria você providenciar o referido documento desde o instante em que fez a inscrição, mas a certeza da impunidade te leva a um relaxamento natural que é validado quando o funcionário te dá mais um tempo para você entregar o documento para ele (abrindo espaço para propinas, favores, presentes, etc). Isso tudo precisa acabar! Os nossos interesses não podem sobrepor às regras que a sociedade deve seguir e nós somos parte desta sociedade. Se não mudarmos o nosso comportamento, a cultura do favorecimento pessoal se torna uma instituição legalizada pela ação contrapondo aquilo que fora estabelecido.
A Constituição rasgada |
Você se lembra do comercial do cigarro Vila Rica que foi veiculado na década de 70 em que o jogador Gérson (campeão do Mundo na Copa de 70) dizia que gostava de levar vantagem em tudo? Desta época em diante surgiu a “Lei do Gérson” como ficou conhecida toda e qualquer atitude onde alguém levava alguma vantagem em uma negociação. Tempos mais tarde numa tentativa de se recuperar o mesmo jogador protagonizou outro comercial onde dizia que “o melhor do Brasil é o brasileiro”, mas desta vez sem muito sucesso. Essa “vantagem em tudo” até hoje representa, em grande parte, a forma de pensar de muitos de nós que entende que levar vantagem em tudo significa também burlar regras e leis.
(O vídeo a seguir não deve ser interpretado como um incentivo ao fumo, serve apenas como parte do contexto deste artigo)
Machado de Assis |
Mário de Andrade |
É de longa data que somos conhecedores de muitas frases nossas que traduzem situações muito semelhantes sobre o nosso jeito de ser:
“Amigos, amigos; negócios à parte” - uma tentativa de demonstrar que aquela relação não teria influência do “jeitinho” brasileiro.
“Aos inimigos, as leis; aos amigos, tudo” – neste caso demonstrando claramente o favorecimento através do lado emocional e social.
“Jogar para debaixo do tapete” – como uma forma de esconder o erro e deixar a situação como está.
“Você sabe com quem está falando?” – uma pergunta que impõe um posicionamento de superioridade (pelo desconhecimento da pessoa ou de sua posição social) levado como uma forma de burlar uma regra previamente estabelecida sem apresentar inicialmente o transgressor.
“Aqui quem manda sou eu” – quando dita por alguém de menor poder ou influência, traduz-se pela demonstração clara de influência e decisão sobre o processo ou regra estabelecida em benefício ou favorecimento de outrem.
A nossa forte tendência à cordialidade, tolerância e conciliação propicia um ambiente em que a informalidade, o “bom senso” (julgamento próprio) e simpatia sobrepõem às regras. Olhando pelo lado dos negócios nota-se que no final da linha estes atos alteram enormemente os nossos custos de produção por requerer fiscalizações excessivas, inspeções muitas vezes desnecessárias e geração de novas regras tanto nas esferas públicas e privadas. Já não existem mais os contratos feitos no “fio do bigode” onde a palavra tinha valor. Olhe ao seu redor e veja quantas atividades poderiam ser removidas do seu cotidiano caso cada um de nós fizéssemos a nossa parte em concordância com a sociedade e não com o nosso julgamento apenas.
Periodicamente participo de reuniões com pessoas de outras nacionalidades e posso lhe assegurar que a nossa imagem não é nada agradável diante dos olhos destas pessoas e, invariavelmente, temos que “matar um leão” (me desculpem os defensores dos animais) por dia para provar que somos honestos, sabemos cumprir horários e respeitamos os regras e o direito dos outros. Isso não é nada bom! Se você tem algum amigo brasileiro que vive em outro país, aproveite esta oportunidade e pergunte a ele como somos vistos por estas pessoas Você certamente vai ficar chocado com o que vai ouvir se é que ainda não ouviu.
Brasil - a bola da vez |
Por último quero esclarecer que apesar de toda esta situação existem muitas pessoas que se desvencilharam deste estigma de (má) formação cultural que envolve o nosso país (Graças a Deus!) e apenas ainda são em número muito reduzido. Cabe a cada um de nós iniciarmos, mesmo em passos pequenos, uma corrida para mudar o curso desta história, são atitudes simples que resultarão em modificações radicais na natureza do nosso comportamento diante das situações a que somos expostos. Nós temos a obrigação de fazermos um país melhor para nós e para os nossos filhos.
Você não precisa levar vantagem em tudo.
Diga NÃO ao “Jeitinho” (ruim) Brasileiro!
1 comentários:
Sábias palavras e acertada análise. Às vezes é tênue a linha divisória entre "usar o coração", como você disse, e a aquiescência com a sutileza do erro de quem quer levar vantagem. Seu texto nos desafia a não cedermos, pois a concordância tem trazido muito agravo a este costume.
Peço permissão para indicar aos pais da Escola Cristã em nosso próximo boletim informativo.
Obrigado - Valdir Santos
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