Quando iniciei minha carreira na década de 80 na aviação conheci um profissional muito competente que me ensinou boa parte das técnicas que utilizei até recentemente e este, por desventuras da vida, acabou por sair da empresa e buscar novos rumos. Tempos mais tarde (15 anos) procuro por ele e ao telefone descubro que está desempregado a quase cinco anos. Conversamos bastante e notei que a vida estava difícil mesmo para ele! Desmotivado por problemas pessoais e financeiros e já sem muita esperança em retornar ao ambiente de uma empresa.
A minha busca por ele era para uma vaga na mesma empresa em que trabalho (a mesma em que trabalhamos juntos no passado) para completar a minha equipe. Ele já tinha trabalhado naquele setor e naquela mesma função só que agora neste reencontro vi uma pessoa que já não acreditava mais em si. Naquela hora o primeiro pensamento, até natural, foi de desistir e tratar a minha ligação como se fosse apenas uma cortesia, porém fui direto ao assunto e falei da oportunidade que se apresentava. Recebi um quase NÃO acompanhado de diversas justificativas como: o tempo fora da profissão, dificuldade de se mudar de uma cidade para outra, a baixa estima e tudo o mais que se pode esperar num momento destes e de uma pessoa que esteja nesta situação. De repente no meio de nossa conversa fui interrompido pela seguinte frase:
- Será que conseguirei apresentar o resultado que a empresa requer de mim? Já estou com a idade avançada e já não acredito mais em mim, estou fora da área há tanto tempo que não me vejo mais em condições de retornar apesar de querer voltar ao ofício.
Respondi, já interrompendo.
- Eu acredito em você mesmo que você não acredite em mim. Estou te oferecendo esta oportunidade não por compaixão mas por competência.
Na vida aprendi que não existe almoço grátis e para que este retorno tivesse seu devido valor, combinamos que ele teria 3 meses de experiência e que eu e a minha equipe (nós) estaríamos dispostos a ajudá-lo. Após este período faríamos uma reavaliação de todo o processo para decidir pela sua continuidade ou não no grupo, de qualquer forma seria para ele uma chance de juntar um capital que lhe daria subsistência por mais algum tempo.
Os três meses não foram nada fáceis! A empresa tem regras bem definidas de avaliação de resultados, ética, atendimento aos clientes e outras tantas métricas que estão envolvidas. Com tudo isso para aprender e colocar em prática, a adaptação se tornava ainda mais difícil. Tudo era novo e bastante complicado. Já nas primeiras semanas agucei o olhar e notei que havia uma evolução em todo o processo de adaptação, um aprimoramento em cada uma das etapas que se seguiam. O grupo se dividia entre aqueles que não acreditavam na sua reintegração e os que estavam em dúvida.
Ao término do período tínhamos um profissional que demonstrava sua competência, estava reintegrado ao meio ambiente profissional, comprometido com as metas da empresa e já criando seus novos horizontes pessoais. Durante nossas muitas conversas neste período lhe falava de preparação, treinamento, oportunidades futuras, motivação e comprometimento. Tempos mais tarde, diante de uma nova oportunidade na mesma empresa, ele concorreu à outra vaga e foi selecionado. Encabulado por deixar o departamento que o acolheu, veio me agradecer por ter lhe dado a oportunidade de voltar ao mercado de trabalho dizendo que o que o fez ter a certeza de que teria o sucesso esperado foi aquela frase que lhe falei no momento em que conversávamos ao telefone.
- Eu acredito em VOCÊ mesmo que você não acredite em mim!
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